A Bíblia é um livro singular. Trata-se de um dos livros mais antigos do mundo e, no entanto, ainda é o bestseller mundial por excelência. É produto do mundo oriental antigo; moldou, porém, o mundo ocidental moderno.
Tiranos houve que já queimaram a Bíblia, e os crentes a reverenciam. É o livro mais traduzido, mais citado, mais publicado e que mais influência tem exercido em toda a história da humanidade.
Afinal, que é que constitui esse caráter inusitado da Bíblia? Como foi que ela se originou? Quando e como assumiu sua forma atual? Que significa "inspiração" da Bíblia? São essas as perguntas para as quais se voltará o nosso interesse neste artigo.
A estrutura da Bíblia
A palavra Bíblia (Livro) entrou para as línguas modernas por intermédio do francês, passando primeiro pelo latim biblia, com origem no grego biblos.
Originariamente era o nome que se dava à casca de um papiro do século xi a.C. Por volta do século II d.C, os cristãos usavam a palavra para designar seus escritos sagrados.
Os dois testamentos da Bíblia
A Bíblia compõe-se de duas partes principais: o Antigo Testamento e o Novo Testamento. O Antigo Testamento foi escrito pela comunidade judaica, e por ela preservado um milênio ou mais antes da era de Jesus.
O Novo Testamento foi composto pelos discípulos de Cristo ao longo do século I d.C.
A palavra testamento, que seria mais bem traduzida por "aliança", é tradução de palavras hebraicas e gregas que significam "pacto" ou "acordo" celebrado entre duas partes ("aliança"). Portanto, no caso da Bíblia, temos o contrato antigo, celebrado entre Deus e seu povo, os judeus, e o pacto novo, celebrado entre Deus e os cristãos.
Estudiosos cristãos frisaram a unidade existente entre esses dois testamentos da Bíblia sob o aspecto da Pessoa de Jesus Cristo, que declarou ser o tema unificador da Bíblia.
Agostinho dizia que o Novo Testamento acha-se velado no Antigo Testamento, e o Antigo, revelado no Novo. Outros autores disseram o mesmo em outras palavras: "O Novo Testamento está no Antigo Testamento ocultado, e o Antigo, no Novo revelado". Assim, Cristo se esconde no Antigo Testamento e é desvendado no Novo. Os crentes anteriores a Cristo olhavam adiante com grande
expectativa, ao passo que os crentes de nossos dias vêem em Cristo a concretização dos planos de Deus.
As seções da Bíblia
A Bíblia divide-se comumente em oito seções, quatro do Antigo testamento e quatro do Novo.
A lei (Pentateuco) – 5 livros | Poesia – 5 livros |
1. Gênesis |
1. Jó |
Historia – 12 livros | Profetas – 17 livros |
1. Josué |
A. Maiores B. Menores |
Evangelhos | História |
1. Mateus |
1. Atos dos Apóstolos |
1. Romanos |
12. Tito |
1. Apocalipse |
A divisão do Antigo Testamento em quatro seções baseia-se na disposição dos livros por tópicos, com origem na tradução das Escrituras Sagradas para o grego.
Essa tradução, conhecida como a Versão dos septuaginta (LXX), iniciara-se no século III a.C. A Bíblia hebraica não segue essa divisão tópica dos livros, em quatro partes. Antes, emprega-se uma divisão de três partes, talvez baseada na posição oficial de seu autor.
Os cinco livros de Moisés, que outorgou a lei, aparecem em primeiro lugar. Seguem-se os livros dos homens que desempenharam a função de profetas
Por fim, a terceira parte contém livros escritos por homens que, segundo se cria, tinham o dom da profecia, sem serem profetas oficiais. É por isso que o Antigo Testamento hebraico apresenta a estrutura do quadro logo abaixo.
A razão dessa divisão das Escrituras hebraicas em três partes encontra-se na história judaica. É provável que o testemunho mais antigo dessa divisão seja o prólogo ao livro Siraque, ou Eclesiástico, durante o século II a.C. O Mishna(ensino) judaico, Josefo, o primeiro historiador judeu, e a tradição judaica posterior também deram prosseguimento a essa divisão tríplice de suas Escrituras.
A lei |
Os profetas |
Os escritos |
1. Gênesis |
Profetas anteriores Profetas posteriores |
Livros poéticos Cinco rolos (Megilloth) Livros históricos |
Esta é a disposição encontrada nas edições judaicas modernas do Antigo Testamento. Cf. The Holy Scríptures, according to the Masoretic Text e Bíblia hebraica, organizada por Rudolph Kittel e Paul E. Kahle.
O Novo Testamento faz uma possível alusão a uma divisão em três partes do Antigo Testamento, quando Jesus disse: "... era necessário que se cumprisse tudo o que de mim estava escrito na lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos" (Lc 24.44).
A respeito do fato de o Judaísmo ter mantido uma divisão tríplice até a presente data, a Vulgata latina, de Jerônimo, e as Bíblias posteriores a ela seguiriam o formato mais tópico das quatro partes em que se divide a septuaginta. Se combinarmos essa divisão com outra, mais natural e largamente aceita, também de quatro partes, do Novo Testamento, a Bíblia pode ser divida na estrutura geral e cristocêntrica apresentada no quadro da página seguinte.
Ainda que não existam razões de ordem divina para dividirmos a Bíblia em oito partes, a insistência cristã em que as Escrituras devam ser entendidas tendo Cristo por centro baseia-se nos ensinos do próprio Cristo.
Cerca de cinco vezes no Novo Testamento, Jesus afirmou ser ele próprio o tema do Antigo Testamento (Mt 5.17; Lc 24.27; Jo 5.39; Hb 10.7). Diante dessas declarações, é natural que analisemos essa divisão das Escrituras, em oito partes, por tópicos, sob o aspecto de seu tema maior — Jesus Cristo.