A inspiração Divina nos escritos do Novo Testamento
Nesta primeira parte trataremos sobre a Inspiração Divina nos escritos do NT que deram base para o reconhecimento de seu canon como escritura. Fato é que as livros do NT, não receberam autoridade nem declaração de autenticidade por determinada Igreja só por que foram reunidos em um volume unico, mas, os proprios escritos do NT, os 27 que reconhecemos e aceitamos hoje, atribuem a si mesmos a inspiração divina e portanto autoridade de Palavra de Deus e escritura sacra, superior a outros escritos posteriores!
Quando se fala em canonicidade dos escritos sagrados é bem comun muitos católicos radicalistas afirmarem que foi a Igreja Católica Romana quem deu origem ao canôn. Isso é um argumento sem fundamento algum, pois o fato é que não só a Igreja Romana mas qualquer outra Igreja que se diz cristã devem ser reguladas pelo canon, em vez de governá-los, então a igreja não é a causa do cânon. Outros defensores do catolicismo cometem o mesmo erro, afirmando que a igreja é definidora do cânon. Eles negligenciam o fato de que foi Deus (por inspiração) quem causou as Escrituras canônicas, não a igreja.
Os apóstolos e profetas do Novo Testamento não hesitaram em classificar seus escritos como inspirados, ao lado do Antigo Testamento. Seus livros eram respeitados, colecionados e circulava na igreja primitiva como Escrituras Sagradas.
O que Jesus declarou sobre a inspiração a respeito do Antigo Testamento o Senhor prometeu também quanto ao Novo Testamento.
Vamos examinar a promessa de inspiração e seu cumprimento nas páginas do Novo Testamento.
O Novo Testamento reivindica inspiração divina
Há dois movimentos básicos na compreensão das reivindicações do Novo Testamento a respeito de sua inspiração. Primeiramente temos a promessa de Cristo de que o Espírito Santo guiaria os discípulos no ensino de suas verdades, que constituem o fundamento da igreja. Em segundo lugar, há o cumprimento aclamado disso no ensino apostólico e nos escritos do Novo Testamento.
A promessa de Cristo a respeito da inspiração
Jesus nunca escreveu um livro. No entanto, endossou a autoridade do
Antigo Testamento. e a promessa de inspiração para o Novo Testamento. Em várias ocasiões, o Senhor prometeu a concessão de autoridade divina para o testemunho apostólico dele mesmo.
A promessa de Cristo reivindicada pelos discípulos.
Os discípulos de Cristo não se esqueceram da promessa do Senhor. Eles pediram-lhe que seu ensino tivesse exatamente o que Jesus lhes havia prometido: a autoridade de Deus.
E eles o fizeram de várias maneiras: dedicando-se ao que sabiam ser a continuação do ministério de ensino de Cristo, crendo fervorosamente que seus ensinos teriam a mesma autoridade e poder do Antigo Testamento e afirmando de modo específico em seus escritos que eles tinham a autoridade de Deus.
A afirmação de estarem dando prosseguimento ao ensino de Cristo.
Comparação entre o Novo e o Antigo Testamento.
A promessa de Cristo de que inspiraria os ensinos dos apóstolos e o cumprimento de tal promessa nos escritos do Novo Testamento não são os únicos indícios de sua inspiração. Outro indício é sua comparação direta com o Antigo Testamento. Paulo reconhecia claramente a inspiração do Antigo Testamento (2Tm 3,16), ao chamá-lo "Escrituras". Pedro classificou as cartas de Paulo ao lado das demais "Escrituras" (2Pe 3.16). E Paulo menciona o evangelho de Lucas, chamando-o "Escritura" (1Tm 5.18, citando Lc 10.7). Na verdade, em outra passagem o apóstolo atribui a seus próprios escritos a mesma autoridade das "Escrituras" (l Tm 4.11,13).
O livro de Hebreus declara que o Deus que falou em tempos antigos, mediante os profetas, nestes últimos dias tem falado da salvação por seu Filho (Hb 1.2). E prossegue o autor, afirmando: "... tão grande salvação [...] a qual, começando a ser anunciada pelo Senhor, foi-nos depois confirmada pelos [apóstolos] que a ouviram" (Hb 2.3). Os apóstolos foram o canal da verdade de Deus no Novo Testamento, assim como os profetas no Antigo.
Portanto, não é de estranhar que os livros apostólicos sejam colocados no mesmo nível de autoridade dos livros inspirados do Antigo Testamento. São todos proféticos.
Reivindicação direta de inspiração nos livros do Novo Testamento.
No próprio texto dos livros do Novo Testamento há numerosos indícios de sua autoridade divina. São eles explícitos e implícitos.
Os evangelhos apresentam-se como registros autorizados do cumprimento das profecias do Antigo Testamento a respeito de Cristo (cf. Mt 1.22; 2.15,17; Mc 1.2).
Apoio à reivindicação de inspiração do Novo Testamento
Há dois tipos de evidências que demonstram haver total apoio à reivindicação que o Novo Testamento faz acerca de sua inspiração divina.
Uma delas acha-se dentro do próprio Novo Testamento; a outra inicia-se com os pais da igreja, que seguiram os apóstolos.
Apoio à reivindicação de inspiração dentro do Novo Testamento.
A igreja do século I não agiu com ingenuidade ao aceitar certos escritos como inspirados. Jesus havia advertido seus discípulos a respeito de falsos profetas e de enganadores que haveriam de vir em seu nome (Mt 7.15; 24.10,11).
Paulo havia exortado os tessalonicenses para que não aceitassem os ensinos errôneos de cartas que pretensamente teriam vindo da parte dele (2Ts 2.2).
João advertiu seus leitores com grande fervor:
"Amados, não creiais em todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de
Deus" (1Jo 4.1).
No século I já estavam em circulação ensinos falsos e incorretos a respeito de Cristo (cf. Lc 1.1-4). Por essa razão, a igreja do período neotestamentário precisava estar discernindo a mentira da verdade desde o início.
Todo livro sem a firma apostólica (2Ts 3.17) deveria ser recusado. O fato de os livros serem lidos, citados, colecionados e passados de mão em mão, dentro das igrejas do Novo Testamento, assegura-nos que eram tidos como proféticos ou divinamente inspirados desde o começo da igreja de Cristo.
A leitura pública dos livros do Novo Testamento. Era costume judaico ler as Escrituras no sábado (cf. Lc 4.16). A igreja deu continuidade a esse costume no dia do Senhor. Paulo admoestou a Timóteo a que persistisse "em ler, exortar e ensinar" (1Tm 4.13). E aos colossenses Paulo escreveu: "Depois que esta epístola tiver sido lida entre vós, fazei que também o seja na igreja dos laodicenses, e a que veio da Laodicéia lede-a vós também" (Cl 4.16).
A leitura em público dessas cartas como Escrituras Sagradas é prova de sua aceitação desde o início, pela igreja do Novo Testamento, por terem autoridade divina.
A circulação dos livros do Novo Testamento. O texto de Colossenses, mencionado acima, revela outro fato muito importante. Os livros escritos para uma igreja tencionavam ser de valor para outras igrejas também, e por isso circulavam para leitura pública. É possível que essa prática de intercambiar os livros inspirados induziu os líderes da igreja a produzir as primeiras cópias do Novo Testamento. Essa ampla circulação de cartas mostra que outras igrejas, além daquela que originariamente fora a destinatária, reconheciam tais cartas como Sagradas Escrituras e assim as liam.
A coleção dos livros do Novo Testamento. Os livros dos Novo Testamento circulavam entre as igrejas para ser lidos, mas Pedro também nos informa que eram colecionados. Parece que o próprio Pedro possuía uma coleção das cartas de Paulo que aquele apóstolo classificava plenamente como escritos inspirados no mesmo nível do Antigo Testamento.
Assim escreveu Pedro: "Tende por salvação a longanimidade de nosso Senhor, como também o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi dada. Em todas as suas cartas ele escreve da mesma forma, falando acerca destas coisas. [...] os indoutos e inconstantes [as] torcem, como o fazem também com as outras Escrituras, para sua própria perdição" (2Pe 3.15,16).
Tais livros circulavam entre as igrejas, eram lidos, copiados e colecionados pelas igrejas do Novo Testamento, sendo colocadas ao lado do cânon do Antigo Testamento; sem ser questionados, esses livros eram tidos como escritos inspirados.
Citação dos livros do Novo Testamento. Os livros do Antigo Testamento foram escritos ao longo de um espaço de tempo muito maior que os do Novo. É por isso que há mais citações de profetas mais antigos pelos profetas mais recentes do Antigo Testamento. O fato, porém, de haver citações de livros mais antigos do Novo Testamento em livros mais recentes dessa parte da Bíblia revela-nos outro fato: aqueles livros eram tidos como inspirados por seus contemporâneos.
Paulo cita o evangelho de Lucas, chamando-o Escritura, em 1Timóteo 5.18. "Digno é o obreiro do seu salário" (cf. Lc 10.7). Judas cita com clareza 2Pedro 3.2,3, ao escrever: "... os quais diziam: No último tempo haverá escarnecedores, andando segundo as suas ímpias concupiscências" (Jd 18). Lucas faz referência a
sua obra anterior (At 1.1), e João faz alusão a seu próprio evangelho (1Jo 1.1). Paulo menciona outra carta que havia escrito aos coríntios (1Co 5.9).
Ainda que alguns desses exemplos não nos fornecem citações formais, ajudam, no entanto, a ilustrar a realidade de que dentro do próprio Novo Testamento existe o reconhecimento que um autor sagrado faz de outro. Esse processo amplo, generalizado, de fazer circular, ler, copiar, colecionar e citar os livros do Novo Testamento ilustra satisfatoriamente o reconhecimento de que esses livros reivindicavam inspiração divina.
Apoio à reivindicação de inspiração da Igreja primitiva.
Todos os autores do Novo Testamento são mencionados pelo menos por um pai apostólico por terem autoridade divina. Esses pais da igreja vieram uma ou duas gerações após o encerramento do Novo Testamento(i.e, antes de 150 d.C).
Na verdade, eles representam o vínculo ininterrupto da reivindicação do Novo Testamento a favor de sua inspiração divina, desde os tempos dos apóstolos, passando pela fundação da igreja e, sem quebra nem interrupção, pelos séculos e milênios que se seguiram.
Os primeiros pais da igreja. Os escritos mais antigos do cristianismo contêm inúmeras referências às Escrituras do Novo Testamento. Muitas dessas citações trazem as mesmas designações autorizadas de quando os autores do Novo Testamento citam o Antigo.
A pretensa Epístola de Barnabé (c. 70-130), obra atribuída infundadamente ao companheiro de Paulo, cita Mateus 26.31 como aquilo que "Deus disse" (5.12). Depois, chama Mateus 22.14 "Escritura" (4.14).
Clemente de Roma, em sua Epístola aos coríntios (c. 95-97), chama os evangelhos sinóticos (Mateus,Marcos e Lucas) "Escrituras". Ele emprega também as expressões "disse Deus" e "está escrito", a fim de indicar passagens do Novo Testamento (cf.caps. 36 e 46).
Inácio de Antioquia (110 d.C.) escreveu sete cartas, nas quais fez numerosas citações do Novo Testamento.
Policarpo (c. 110-135), um dos discípulos do apóstolo João, fez muitas citações dos livros do Novo Testamento em sua Epístola aos filipenses. Às vezes, esse autor introduz tais citações com termos como "dizem as Escrituras" (cf. cap. 12).
A obra denominada O pastor, de Hermas (c. 115-140), foi escrita em estilo apocalíptico (visões), semelhante ao de Apocalipse, com inúmeras referências ao Novo Testamento.
O didaquê (c. 100-120), ou Ensino dos doze apóstolos, como às vezes é chamado, registra muitas citações livres do Novo Testamento.
Papias (c. 130-140) inclui o Novo Testamento num livro intitulado Interpretação dos discursos do Senhor, mesma expressão usada por Paulo em referência ao Antigo Testamento, em Romanos 3.2.
A chamada Epístola a Diogneto (c. 150) faz muitas alusões ao Novo Testamento sem um título.
Fica notório o seguinte, no uso que os pais apostólicos fizeram do Novo Testamento:o Novo Testamento, à semelhança do Antigo, era tido como inspirado por Deus. Com freqüência as citações são livres e sem menção da fonte original. Todavia, qualquer pessoa que ler os escritos dos pais apostólicos necessariamente verá que os livros do Novo Testamento gozavam da mesma elevada estima atribuída ao Antigo Testamento.
Pais da igreja de época posterior. A partir da segunda metade do século II encontra-se apoio contínuo à reivindicação de inspiração feita pelo Novo Testamento.
Justino Mártir (cerca de 165 a.d) considerava os evangelhos "a voz de Deus" (Apologia, 1,65). "Não devemos supor", escreveu ele, "que a linguagem provém de homens inspirados, mas da Palavra Divina que os move" (1,36).
Taciano (c. 110-180), discípulo de Justino, cita João 1.5 como "Escritura", no capítulo 13 de sua Apologia.
Irineu (c. 130-202), em sua obra Contra heresias, escreveu: "Pois o Pai de todos nós deu o poder do evangelho a seus apóstolos, por intermédio de quem viemos a conhecer a verdade [...] esse evangelho que eles pregaram. Depois, pela vontade de Deus, eles nos legaram as Escrituras, para que fossem 'pilar e
alicerce' de nossa fé" (5,67).
Clemente da Alexandria (c. 150-215) classifica os dois Testamentos, o Novo e o Antigo, como igualmente inspirados por Deus, com a mesma autoridade divina, dizendo: "As Escrituras [...] na Lei, nos Profetas e, além dessas, no abençoado Evangelho [...] são válidas por causa de sua autoridade onipotente" (Strômata [Seleções], 2,408-9).
Tertuliano (c. 160-220) afirmava que os quatro evangelhos "são edificados na base certa da autoridade apostólica, de modo que são inspirados em sentido muitíssimo diferente dos escritos de um cristão espiritual".
Hipólito (c. 170-236), discípulo de Irineu, oferece-nos uma das mais definitivas declarações a respeito da inspiração encontradas nos pais primitivos. Na sua obra Tratado sobre Cristo e o Anticristo, ao falar dos escritores do Novo Testamento, assim se expressou:
"Esses homens abençoados [...] tendo sido aperfeiçoados pelo Espírito da profecia, são dignamente honrados pela própria Palavra, foram trazidos a uma harmonia íntima [...] como instrumentos, e, tendo a Palavra dentro deles, por assim dizer, a fim de fazer ressoar as notas [...] pelo Senhor foram movidos, e anunciavam o que Deus queria que anunciassem. É que eles não falavam de sua própria capacidade [...] falavam daquilo que lhes era [revelado] unicamente por Deus".
Orígenes (c. 185-254), professor em Alexandria, também nutria opiniões fortemente enraizadas quanto à inspiração. Cria ele que "o Espírito inspirou cada santo, fosse profeta, fosse apóstolo; e não havia um Espírito nos homens da antiga dispensação e outro naqueles que foram inspirados por ocasião do advento de Cristo" (Dos princípios). É que em sua plenitude e inteireza "as Escrituras foram escritas pelo Espírito" (16,6).
O bispo Cipriano (c. 200-258) confirmava com toda a clareza a inspiração do Novo Testamento, declarando ser ele "Escrituras Divinas" dadas pelo Espírito Santo.
Eusébio de Cesaréia (c. 265-340), notável historiador da igreja, expôs e catalogou os livros inspirados dos dois Testamentos em sua História eclesiástica.
Atanásio de Alexandria (c. 295-373), conhecido Como o "pai da ortodoxia", por causa de sua defesa da divindade de Cristo contra Àrio, foi o primeiro a usar a palavra cânon em referência aos livros do Novo Testamento.
Cirilo de Jerusalém (c. 315-316) fala das "Escrituras divinamente inspiradas tanto do Antigo como do Novo Testamento". Depois de relacionar os 22 livros das Escrituras hebraicas e 26 do Novo Testamento (todos menos o Apocalipse), acrescentou: "Aprendei também diligentemente, com a igreja, quais são os livros do Antigo Testamento, e quais são os do Novo. E rogo-vos com veemência: Não leiais nenhum dos escritos apócrifos" (Das Escrituras sagradas).
É desnecessário prosseguir. Basta-nos salientar, nesta altura, que a doutrina ortodoxa da inspiração do Novo Testamento teve continuidade ao longo dos séculos, passando pela Idade Média, chegando à Reforma e penetrando no período moderno da história da igreja.
Louis Gaussen resumiu a situação muito bem ao escrever o seguinte:"Com a exceção única de Teodoro de Mopsuéstia [c. 400], [...] verificou-se que foi impossível produzir, no longo decurso dos oito primeiros séculos do cristianismo, um único doutor da igreja que negasse a plena inspiração das Escrituras, a não ser a negação que se encontra no seio das mais violentas heresias que têm atormentado a igreja cristã.
Em resumo, portanto, a inspiração do Novo Testamento baseia-se na promessa de Cristo de que seus discípulos seriam dirigidos pelo Espírito em seus ensinos a respeito do Senhor. Os discípulos creram nessa promessa e a assimilaram, havendo claros indícios de que os próprios autores do Novo Testamento, bem como os de sua época, reconheceram o cumprimento dessas promessas. Criam em que o Novo Testamento havia sido divinamente inspirado, pelo que, desde os primórdios do início dos registros cristãos, tem havido apoio unânime à doutrina da inspiração do Novo Testamento, em igualdade de condições com o Antigo Testamento.
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Obras consultadas:
- Uma introdução ao estudo dos evangelhos, de Brooke Foss Westcott, New York, Macmillan, edição de 1902;
- Theopneustia: a inspiração plenária das Escrituras Sagradas, de David Scott, Chicago, BICA.
Fonte: Introdução Bíblica - © 1974 - Norman Geisler & Wiliiam Nix - Todos os direitos reservados por Editora Vida.
Edição: www.firmefundamento.com.br
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