O problema do mal!

O problema do mal!

O problema do mal, posto de maneira simples, é este:


"De duas uma, ou Deus quer abolir o mal, e não pode; ou Ele pode, mas não quer fazê-lo; ou Ele não pode ou Ele não quer. Se Ele quer, mas não pode, ele é impotente. Se Ele pode, mas não quer, logo Ele é perverso. No entanto, se Deus quer e pode abolir o mal, então como o mal ocorre no mundo?"

Na tentativa de lidar com esse problema, as pessoas levantaram uma extensa gama de soluções, a maioria delas, de uma maneira ou outra, é insatisfatória. Por exemplo, algumas modificaram o conceito de que Deus é Todo-poderoso. Outras pessoas mudaram o conceito de que Deus é totalmente bom. Outros mudaram o próprio conceito de mal. Por exemplo, pessoas associadas às ciências da mente (seitas) concluem que o mal é apenas uma ilusão. Ele não existe de verdade. É apenas uma percepção errônea da mente finita. Outros interpretam o problema do mal por meio da malha de reencarnação e carma. Ainda outros, em especial os que pertencem aos círculos da Nova Era, crêem que criamos nossa própria realidade por meio do poder da mente.

Neste artigo procuraremos desfazer ideias errôneas sobre o problema do mal. Também fornecerei o que acredito ser a perspectiva bíblica para essa questão mostrando que, do ponto de vista cristão, o problema do mal possa fazer sentido para alguém.

Como jovens teólogos, um de nossos problemas é tentar desvendar o inescrutável. O fato é que muito do que
Deus faz em nosso mundo é e continuará sendo inescrutável para nossa mente finita. Nunca saberemos por que algumas coisas ruins acontecem neste universo. Alguns caminhos de Deus continuarão a ser um mistério para nós. Deus afirmou em Isaías 55.8,9:
"Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor. Porque, assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos, mais altos do que os vossos pensamentos."


O Mal Prova que Deus não Existe?


Aparentemente, muitas pessoas vêem maldades, sem sentido e desnecessárias, ocorrendo no mundo e concluem que Deus não existe. Ou talvez, quem sabe em alguma outra época, existiu um Deus, mas é
provável que agora Ele esteja morto. Alvin Plantinga diz assim: "Muitos crêem que a existência do mal (ou, pelo menos, o mal na quantidade e variedade que encontramos hoje) torna a crença em Deus sem fundamento e racionalmente inaceitável". Os teólogos William Hamilton e Thomas Altizer concluíram, sem rodeios, que Deus está morto. Outros crêem que se existe um Deus, Ele, com certeza, não tem razões morais o suficiente para permitir que essas maldades horríveis ocorram.

Assim, o problema do mal representa o conflito entre três realidades: o poder de Deus, a benevolência de Deus e a presença do mal no mundo. O bom senso nos diz que as três não podem ser verdadeiras ao mesmo tempo.

A solução do problema do mal envolve modificar uma ou mais dessas três opções: limitar o poder de Deus, limitar a benevolência de Deus ou modificar a existência do mal (como, por exemplo, chamá-lo de ilusão).

Caso Deus não afirmasse sua própria bondade, com certeza, seria mais fácil explicar a existência do mal. No entanto, Deus afirma ser bom. Se Deus tivesse poder limitado e fosse incapaz de opor-se ao mal, então seria mais fácil explicar a existência do mal. Entretanto, Deus afirma ser Todo-poderoso. Se o mal fosse apenas uma ilusão logo o problema, de fato, não existiria. Contudo, o mal não é uma ilusão, é dolorosamente real.


Hoje, enfrentamos a realidade do mal moral (que é cometido por agentes morais independentes, incluindo coisas como a guerra, o crime, a crueldade, o conflito de classes, a discriminação, a escravidão, a limpeza
étnica, homens-bomba e outras injustiças) e do mal natural (que inclui terremoto, enchentes, furacões e outros equivalentes). Deus é bom e Todo- Poderoso e, apesar disso, o mal existe. Em razão de o mal existir e de não
poder ser conciliado com um Deus bom e Todo-Poderoso, muitas pessoas escolhem simplesmente a total rejeição da crença em Deus.

David Hume, H. G. Wells e Bertrand Russel, proeminentes pensadores, pertencem a esse grupo. Hume, de maneira sucinta, defendeu isso quando escreveu sobre Deus:

"Ele quer evitar o mal, mas não é capaz? Então, Ele é impotente. Ele é capaz, mas não quer fazer isso? Então, ele é sádico. Ele é capaz e quer: então por que motivo o mal existe?"

Se existe um Deus — Ele tem de ser totalmente bom e Todo-Poderoso —, assim há questionamentos quanto às atrocidades, como as que Hitler cometeu, o assassinato de seis milhões de judeus, que nunca deveriam ter acontecido. Nós cristãos, com certeza, concordamos que, o que Hitler fez com os judeus foi um horrendo e inescrupuloso crime. Mas a categorização das ações de Hitler como mal faz surgir um importante ponto filosófico.

Conforme muitos pensadores observam, se alguém afirma que o mal existe no mundo, primeiro, deve perguntar-se qual o critério adotado para julgar que alguma coisa é má.Como é possível julgar que determinadas coisas são boas ou más? Por qual padrão moral de devem avaliar pessoas e eventos?

Robert Morey, apologista cristão, explica desta maneira:
"Como você reconhece o mal quando o vê? Por meio de que processo você reconhece o mal? [...] Minha visão — como Sócrates, muito tempo atrás, já demonstrou — é a seguinte: para fazer a distinção entre indivíduos bons e maus deve-se ter um [padrão] universal ou absoluto. Uma vez que se admita isso, então, o resultado final diz que, sem um ponto de referência infinito para o 'bem', a pessoa não pode identificar o bem nem o mal. Apenas Deus pode esgotar o significado ilimitado de bem. Portanto, sem a existência de Deus, não há 'mal' nem 'bem' em um sentido absoluto, pois tudo é relativo. O problema do mal não nega a existência de Deus. Na verdade, ele a exige."


O ponto, portanto, é que é impossível distinguir o mal do bem, a menos que se tenha um ponto de referência ilimitado do que é absolutamente bom. Caso contrário, seria como alguém que estivesse em um bote no mar, em uma noite encoberta e sem bússola — quer dizer, não haveria como distinguir entre o norte e o sul. Deus é nosso ponto de referência para distinguir entre o mal e o bem.

 

Considere Todas as Evidências


Embora nós cristãos reconheçamos que o problema do mal é visto por alguns como um argumento racional contra a existência de Deus, nós sugerimos que os argumentos a favor da existência de Deus têm muito mais
peso e valor do que os contra. E a realidade do mal, que é obviamente problemática, entretanto, é vista como compatível em relação a visão de mundo cristã. Nós cristãos, portanto, argumentamos que não se pode focar a atenção sobre um único e restrito aspecto da evidência (como a existência do mal), mas deve-se considerar todo o conjunto de evidências — inclusive os vários argumentos que, ao longo dos séculos, foram sugeridos a favor da existência de Deus. Em resumo breve, alguns estão listados abaixo.


1. O argumento cosmológico.

Esse argumento diz que cada efeito tem uma causa adequada. O universo é um "efeito". A razão determina que
o que quer que tenha causado o universo deve ser maior que o universo. Essa causa é Deus (e Ele mesmo é a Primeira Causa não-causada). Como Hebreus 3.4 afirma: "Porque toda casa é edificada por alguém, mas o que
edificou todas as coisas é Deus".

2. O argumento teleológico.

Esse argumento destaca a óbvia intencionalidade e complexidade do planejamento do mundo. Se encontrássemos um relógio na areia, poderíamos assumir que alguém criou o relógio, pois, obviamente, as partes não poderiam se unir sozinhas. O perfeito planejamento do universo, de maneira similar, indica um Planejador, e Ele é Deus.

3. O argumento ontológico.

Esse argumento diz que a maioria dos seres humanos tem a idéia inata do mais perfeito ser. De onde vem essa
idéia? Não do homem, pois ele é um ser imperfeito. Algum ser perfeito (Deus) deve ter plantado essa idéia no homem. Não é possível conceber a não-existência de Deus, pois, desse modo, ninguém poderia conceber a
existência de um ser ainda maior. Portanto, de fato, Deus deve existir.


4. O argumento moral.

Esse argumento diz que todo ser humano tem um senso inato de "dever" ou obrigação moral. De onde vem isso? Deve vir de Deus. A existência de uma lei moral em nosso coração exige a existência de um Legislador (veja Rm 1.19-32).


5. O argumento antropológico.

Esse argumento diz que o homem tem personalidade (razão, emoção e desejo). Uma vez que isso é pessoal,
não pode se derivar do impessoal, deve haver uma causa pessoal — e essa causa pessoal é Deus (veja Gn 1.26,27).


Algumas pessoas, obviamente, mesmo quando a par de alguns desses argumentos, ainda rejeitam a crença em Deus. Talvez, João Calvino, o reformador, estivesse certo quando disse que as pessoas não-regeneradas
vêem, de forma nebulosa, essas evidências de Deus no universo. Apenas “quando a pessoa põe os "óculos" da fé e da crença na Bíblia é que as evidências da existência de Deus entram no foco claro e tornam-se convincentes.

Os cristãos, se Calvino estiver correto, fazem bem em oferecer não apenas evidências da existência de Deus, como também evidências que demonstram a confiabilidade da Bíblia. Estou convencido de que se acrescentarmos aos argumentos filosóficos acima o incrível suporte histórico e arqueológico para a confiabilidade da Bíblia, o embasamento histórico de Jesus Cristo (inclusive a ressurreição), e destacarmos a
exatidão das profecias bíblicas e o testemunho de inúmeros cristãos ao longo dos séculos, teremos um argumento bastante forte para provar a existência de Deus a qualquer pessoa sensata.

 

O que é o mal?

 

De uma perspectiva filosófica, o mal não é auto-existente; mas na verdade, ele é a perversão de algo que já existe. O mal é a ausência ou privação de alguma coisa boa. Só há devastação florestal, por exemplo, enquanto existirem árvores. A queda de um dente apenas pode acontecer se houver dente. A ferrugem em um carro, a carcaça decadente, olhos cegos e ouvidos surdos ilustram o mesmo ponto. O mal existe como perversão de alguma coisa boa; ele é a privação e não tem essência em si mesmo.

Norman Geisler declara: "O mal é como um ferimento em um braço ou um buraco de traça em uma vestimenta. Ele apenas existe no outro, mas não por si mesmo".

William Dembski importante teórico que defende o projeto inteligente, explica desta maneira:
"O mal sempre é um parasita do bem. Na verdade, todas nossas palavras para definir o mal pressupõem que um bem foi pervertido. Impureza pressupõe pureza, improbidade pressupõe probidade, desvio pressupõe caminho (i.e., uma via) de onde partimos, o pecado [...] pressupõe um alvo errado, e assim por diante".


Na verdade, podemos ser um pouco mais precisos. O mal envolve a ausência de algo bom que deveria estar lá. Quando o bem que deveria estar em alguma coisa não está ali, isso é o mal. Por exemplo, a saúde deve estar
no corpo humano, mas algumas vezes, as pessoas têm câncer. Isso é o mal. O ouvir procede do ouvido, mas algumas vezes, as pessoas ficam surdas. Isso é o mal. A visão deve estar no olho, mas algumas vezes, as pessoas ficam cegas. Isso é o mal.

Observe, em contraste, que a árvore em um gramado não pode ver, no entanto, isso não é o mal, porque nunca se esperou que a árvore enxergasse. Do mesmo modo, se meu nariz não tem uma verruga, isso não é o mal, porque, para começar, nunca se supôs que meu nariz deveria ter uma verruga. Portanto, o mal envolve a ausência de alguma coisa boa que deveria estar ali, como a visão nos olhos, o escutar no ouvido ou a saúde no corpo. O mal é a perversão ou privação de alguma coisa boa que deveria estar presente.

Isso nos leva de volta ao ponto inicial. Quando Deus, como o Arquiteto divino, originariamente, criou o universo, ele era, de todas as maneiras possíveis, perfeitamente bom. Na verdade, Gênesis 1.31 nos relata: "E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom". Nada estava errado. Não havia mal. Não havia no universo a situação em que se pudesse dizer que algo bom deveria estar lá, mas não estava ali. Tudo era bom. Hoje, no entanto nem tudo é bom. Na verdade, existe agora uma grande quantidade de mal no universo que, um dia, foi inteiramente bom. Isso só pode significar uma coisa. Aconteceu algo terrível entre aquele momento e agora, para causar tamanha mudança. Ocorreu uma colossal perversão do bem. Assim como uma casa pode sofrer uma invasão maciça de cupins, o universo sofreu uma invasão maciça de pecado.


Jimmy H. Davis e Harry L. Põe, em seu livro Designer Universe: Intelligent Design and the Existence of God (Planejador do Universo: o Projeto Inteligente e a Existência de Deus), sugere que a existência do mal no universo não desmente a existência de Deus, como também a existência de cupim na casa não desmente a existência do arquiteto: "O fato de que a feiúra, o tormento, a morte, a dor, o sofrimento e o caos estejam presentes no mundo não são argumentos que desmintam o Planejador. Uma infestação de cupim não prova que a casa não teve um arquiteto. O vandalismo não prova que a casa não teve um arquiteto. O incêndio culposo não prova que a casa não teve um arquiteto. Proprietários descuidados que não pintam nem retiram o lixo não provam que a casa não teve arquiteto. Esses assuntos apenas levantam questões sobre a situação da casa desde que foi construída."


Teologicamente, a Bíblia é clara quanto ao fato de que Deus existe e de que Ele criou o universo de modo totalmente bom. A Bíblia também é clara em relação ao fato de que as coisas mudaram de maneira radical
desde que Deus criou o mundo. Na atual conjuntura, é suficiente notar que, devido ao pecado, as coisas agora não são mais como foram criadas para ser. O projeto original de Deus foi corrompido por um intruso -- o pecado. O universo bom de Deus, já não é mais bom.

Em resumo, sei que muitos suportaram sofrimentos significativos e foram tentados a concluir que Deus não existe, ou que, talvez, Ele não se importa. Por favor, permita-me lhes oferecer  algumas verdades  nas quais você pode querer se apoiar:

Os argumentos a favor da existência de Deus são muito mais convincentes e persuasivos do que os contra sua existência. Até mesmo uma casa com cupins tem um arquiteto.

Deus é um Deus vivo que caminha com você em meio a qualquer circunstância que encontre (veja Dn 6.19-27).

Deus ama o que não merece seu amor — inclusive você e eu (1 Jo 4.8). Tente, com os olhos da mente, imaginar você descansando nos braços amorosos de Deus. O amor não é apenas uma característica de Deus. Ele é a personificação do amor (1 Jo 4.8), O amor permeia seu Ser. E o amor de Deus não depende da amabilidade dos objetos (seres humanos). Deus nos ama apesar de termos caído em pecado (Jo 3.16). Deus ama o pecador, apesar de Ele odiar o pecado.

É importante lembrarmos disso, em especial nos momentos em que somos severamente advertidos por nossas faltas. Sentimo-nos, às vezes, culpados e indignos do amor de Deus. Na verdade, devemos sentir-nos
como vermes diante de Deus devido a nossa maldade pessoal. No entanto, esse sentimento não está arraigado nos sentimentos de Deus para conosco. Ele nos ama mesmo quando não merecemos ser amados.

Deus está presente em todos os lugares. Ele está com você em todos os momento, quer você tenha consciência da presença dEle quer não (Sl 139.7,8 veja também 1 Rs 8.27; 2 Cr 2.6; Jr 23.23,24; At 17.27,28). É reconfortante sabermos que não importa para onde vamos, nunca escaparemos da presença de nosso amado Deus. Ele, como Bom Pastor de suas ovelhas, jamais deixará seus filhos sozinhos (Sl 23). Sempre conheceremos a bênção de andar com Ele em todas as provações e circunstâncias da vida.

Deus é justo. Caso alguém o tenha tratado de maneira injusta, confie no fato de que, no final, Deus corrigirá todos os erros (Gn 18.25). A santidade de Deus não apenas significa que Ele está totalmente separado de todo mal, mas também que Ele é absolutamente reto (Lv 19.2). Ele é total e plenamente puro. Deus está separado de tudo que é moralmente imperfeito. As Escrituras põem grande ênfase sobre os atributos de Deus e se quisermos ser companheiros de Deus, devemos considerar seriamente a santidade pessoal. Caminhar em companheirismo diário com Ele, obrigatoriamente, envolve viver da maneira como Deus se agrada. Deus não pode ser companheiro daqueles que se envolvem com o pecado.

Deus é excepcionalmente reto (diferente do conceito de Deus em algumas outras religiões mundiais). Lemos: "Ah! Senhor, Deus de Israel, justo és" (Ed 9.15); "Justo serias, ó Senhor" (Jr 12.1); "Porque o Senhor é justo e ama a justiça" (Sl 11.7); "Ele ama a justiça e o juízo" (Sl 33.5); "Justiça e juízo são a base do teu trono" (Sl 89.14). Dizer que Deus é justo, significa que Ele aplica seus padrões de retidão com justiça e equidade. Não há parcialidade ou deslealdade no modo como Deus lida com as pessoas (Sl 3.5, Rm 3.26).

O Antigo e Novo Testamento proclamam, de maneira enfática, a imparcialidade de Deus (veja, por exemplo, Gn 18.25; Jo 17.25; Hb 6.10). O fato de Deus ser justo é um conforto e também uma advertência. É confortante para aqueles que sofreram abusos. Eles podem descansar seguros de que, no final, Deus consertará todos os erros. No entanto, é uma advertência para aqueles que pensam que não serão punidos pelo mal que praticam. No final, a justiça prevalecerá!


Deus é compassivo e tem sentimentos carinhosos por você. Quando estiver tentado a duvidar da compaixão de Deus, reflita sobre o Jesus do Evangelho, pois isso lhe dará um retrato exato do coração de Deus.

Deus demonstra compaixão carinhosa por seu povo. Em Salmos 103.13, pode-se ler: "Como um pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece daqueles que o temem". Em Salmos 135.14, diz:
"Pois o Senhor julgará o seu povo e se arrependerá em atenção aos seus servos". Salmos 34.18 relata-nos: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado e salva os contritos de espírito". Em Isaías 49.15,
Deus proclama: "Pode uma mulher esquecer-se tanto do filho que cria, que se não compadeça dele, do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, me não esquecerei de ti".

Quando Deus precisa disciplinar seus filhos desobedientes, Ele sempre é compassivo depois que a disciplina é exercida. Deus afirma: "E será que, depois de os haver arrancado, tornarei, e me compadecerei deles, e os farei tornar cada um à sua herança e cada um à sua terra" (Jr 12.15; veja também Is 54.7,8). Observe que, em si mesma, a disciplina de Deus é um sinal do amor e da compaixão dEle, pois por amar tanto seus filhos, Ele não permite que firam a si mesmos ao permanecer em pecado (Hb 12.6).


Podemos ter um vislumbre de primeira mão da compaixão de Deus ao observar a vida de Cristo. Quando testificamos Jesus, testificamos o coração de Deus. (Jesus mesmo disse que quando vemos Jesus, vemos o
Pai — Jo 14.9.) Há, no NT, inúmeros exemplos da compaixão de Jesus. Rememore que Jesus, após passar um tempo sozinho em um barco, foi para terra firme e, ao ver uma grande multidão, foi "possuído de íntima
compaixão para com ela, curou os seus enfermos" (Mt 14.14). Mais tarde, uma multidão de quatro mil pessoas ficou faminta enquanto escutavam os ensinamentos de Jesus. Ele chamou seus discípulos e disse-lhes: "Tenho
compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não tem o que comer, e não quero despedi-la em jejum, para que não desfaleça no caminho" (Mt 15.32). Depois, Jesus multiplicou sete filões de pães e alguns
pequenos peixes para que todos tivessem abundância de alimento para comer (vv. 35-39). Mais tarde, quando dois homens cegos suplicam pela misericórdia de Jesus, Ele não precisou ser coagido para ajudá-los. "Então, Jesus, movido de íntima compaixão, tocou-lhes nos olhos, e logo viram; e eles o seguiram" (Mt 20.34).

A misericórdia e compaixão admiráveis de Jesus incitam esta exortação do escritor de Hebreus: Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecerse das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado. Cheguemos, pois, com confiança ao trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno (Hb 4.15,16).

Em qualquer momento, em que você for tentado a inquirir sobre a benevolência e compaixão de Deus, reflita sobre o Jesus do Evangelho, pois isso lhe dará um retrato exato do coração de Deus. No Evangelho, ao
observar a compaixão de Jesus, vemos a compaixão de Deus em ação. Quer dizer que, graças à compaixão de Deus, você nunca sofrerá na vida? Não, não quer dizer isso. Isso é óbvio, as páginas da Bíblia estão repletas de exemplos de sofrimento. O apóstolo Paulo é um bom exemplo. Ele é um homem que serviu a Deus em tempo integral e que tinha conhecimento vivido da compaixão do Deus a quem servia. No entanto, lemos isto em 2Coríntios 11.24-27:
"Recebi dos judeus cinco quarentenas de açoites menos um; três vezes fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado, três vezes sofri naufrágio, uma noite e um dia passei no abismo; em viagens, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos dos da minha nação, em perigos dos gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre os falsos irmãos; em trabalhos e fadiga, em vigílias, muitas vezes, em fome e sede, em jejum, muitas vezes, em frio e nudez".

Coisas ruins realmente acontecem para pessoas boas. No entanto, durante todo o tempo difícil, Deus está caminhando lado a lado conosco enquanto prosseguimos com dificuldade em nosso caminho em direção ao
céu. Deus não nos isenta do sofrimento, mas Ele sempre está conosco em nosso sofrimento, como estava na fornalha ardente (Dn 3) e na cova dos leões (Dn 6).


Deus é soberano. Nada pode nos atingir, a menos que Deus, em sua sabedoria o permita. Mesmo quando você não entende por que certas coisas acontecem, pode ter certeza de que Deus está no controle.

Soberania divina significa que Deus é o absoluto Regente do universo. Ele pode utilizar vários meios para alcançar seus fins, e Ele sempre está no controle. Não pode acontecer nada neste universo que esteja fora de seu desígnio. Todas as formas de existência estão no âmbito de seu absoluto domínio.


O texto de Salmos 50.1 refere-se a Deus como o Poderoso que "falou e chamou a terra desde o nascimento do sol até ao seu ocaso". O Salmo 66.7 afirma que "Ele domina eternamente pelo seu poder". O Salmos 93.1, assegura-nos que "o Senhor reina" e "se revestiu e cingiu de fortaleza". Em Jó afirmou para Deus: "Bem sei eu que tudo podes, e nenhum dos teus pensamentos pode ser impedido" (Jo 42.2). Em Isaías 40.15 diz-nos que, por comparação, "as nações são consideradas por ele como a gota de um balde e como o pó miúdo das balanças; eis que lança por aí as ilhas como a uma coisa pequeníssima". Na verdade: "Todas as nações são como nada perante ele" (Is 40.17).

Deus afirmou: "O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade" (Is 46.10). Deus nos assegura: "Como pensei, assim sucederá; e, como determinei, assim se efetuará" (Is 14.24). Deus é "o bem-aventurado e único poderoso Senhor, Rei dos reis e Senhor dos senhores" (1 Tm 6.15). Em Provérbios 16.9 relata-nos: "O coração do homem considera o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos". Em Provérbios 19.21 declara: "Muitos propósitos há no coração do homem, mas o conselho do Senhor permanecerá". Em
Provérbios 21.30, lemos: "Não há sabedoria, nem inteligência, nem conselho contra o Senhor". Em Eclesiastes 7.13 instrui-nos: "Atenta para a obra de Deus; porque quem poderá endireitar o que ele fez torto?”. Em
Lamentações 3.37 afirma-se: "Quem é aquele que diz, e assim acontece, quando o Senhor o não mande?"

 

James Montgomery Boice, em seu excelente livro The Sovereign God (O Deus Soberano), fala sobre as várias maneiras por meio das quais Deus, nos tempos bíblicos, mostrou seu controle soberano:

Deus mostrou sua soberania sobre a natureza ao dividir as águas do mar Vermelho para que os filhos de Israel pudessem atravessar do Egito para o deserto e, depois, ao fazer retornar as águas a fim de destruir os soldados egípcios que os perseguiam. Ele mostrou sua soberania ao mandar alimento para dar sustento ao povo enquanto atravessavam o deserto. Em outra ocasião, Ele mandou codornizes ao campo para que tivessem carne. Deus dividiu as águas do rio Jordão para que as pessoas pudessem atravessar em direção a Canaã. Ele fez cair as muralhas de Jerico. Na época de Josué, Ele fez com que o sol permanecesse em Gibeão para que Israel tivesse força para obter uma vitória total sobre seus inimigos em fuga. A soberania de Deus, na época de Jesus, foi vista quando alimentou de quatro a cinco mil pessoas com alguns pequenos pães e peixes, na cura de doentes e ressuscitando de mortos. Por fim, manifestou-se nos eventos ligados à crucificação e ressurreição de Cristo.


O que a soberania de Deus significa para mim e você em relação a nossa luta com as "coisas ruins"? Podemos ter certeza de que todas essas coisas estão sujeitas a Deus e de que nada pode nos atingir, a menos que Deus, em sua sabedoria, assim permita. Quando Ele permite que isso aconteça, podemos ter certeza de que o faz para o nosso bem.

Recomendo que, qualquer pessoa que duvide de que Deus tenha habilidade para, de maneira soberana, entremear os eventos de nossa vida diária para nosso bem maior, leia o livro de Ester, na Bíblia. Nesse livro, encontramos a soberania, a providência e inflexibilidade de Deus operando, nos bastidores, em favor de seu povo. Ele faz o mesmo para nós. Muitas vezes, ainda que não percebamos, Deus está operando. Jerry Bridges concorda:
"De nossa perspectiva limitada, nossa vida é marcada por uma série de contingências sem-fim. Percebemos, com freqüência, que, em vez de agir como havíamos planejado, estamos reagindo devido a uma reviravolta inesperada dos eventos. Fazemos planos, porém, com freqüência, somos obrigados a mudar esses planos. Entretanto, com Deus não há contingências. Nossa inesperada mudança forçada de planos faz parte do plano dEle. Deus nunca é surpreendido; nunca é pego desprevenido; nunca é frustrado por desfechos inesperados. Deus faz conforme seu deleite, e o que o deleita sempre é para sua glória e nosso bem".


O mais difícil para nós é que Deus não nos senta e explica: "Está bem, escutem, permitirei, nesta próxima semana, que alguma coisa ruim aconteça, mas eu estou no controle, e a finalidade desse evento é para
alcançar algo muito bom. Portanto, não se preocupe com isso. Está tudo bem". Deus, com certeza, não se sentou e explicou para Jó por que este sofria de maneira tão horrível. Judy Salisbury oferece esta explicação:

"É como se Deus estivesse dizendo a Jó: "Jó, isso é muito grande, muito maior do que você. Isso tem que ver com meu plano eterno. Jó, você é temporal e pensa dessa maneira. Eu sou infinito, você é finito" — e, Jó, se eu começasse a lhe explicar isso, você não poderia lidar com esse assunto. Não lhe darei todas as respostas, mas saiba isso — nenhuma folha cai no chão sem que eu saiba. Portanto você não acha que estou muito mais preocupado com aqueles que ostentam minha imagem?"


Foi-nos dado a mim e a você o privilégio de por meio da leitura do livro de Jó investigar o contexto da vida desse homem. No entanto, não estamos aptos a investigar o contexto e discernir os misteriosos caminhos
pelos quais Deus opera em nossa vida. Por isso, temos de confiar nEle. Usualmente, não estamos cientes da razão pela qual Deus planeja nossas circunstâncias da maneira que faz. Contudo, podemos sempre ter certeza
de que em seu coração a busca de nosso maior benefício é uma constante.

Penso que Chuck Swindoll está correto quando diz: "A soberania de Deus alivia minha ansiedade. Ela não afasta minhas questões. Ela afasta minha ansiedade. Quando me apoio nisso, sinto-me liberto da preocupação". Na verdade, ele afirma: "A soberania de Deus, liberta-me da necessidade de entendimento. Não preciso ter todas as respostas. Acho fácil, em momentos críticos, dizer a certos indivíduos: 'Você sabe, eu não sei. Não posso deslindar o plano total do Senhor nisso tudo'".

Mas, alguém alguém ainda pode objetivar que, se Deus é tão poderoso e soberano, e bondoso, porque Ele não elimina o mal de uma vez por todas???

Bom, essa é um questão que esclareço em um outro artigo!! clique aqui.